Subversos

Derrames cerebrais com vida própria

segunda-feira, outubro 09, 2006

Vou encontrar-me com ela, vou encontrar-me com ela



Aqui dentro de uma hora, hurra!
vou encontrar-me com ela, vou encontrar-me com ela
aqui dentro de uma hora
vou encontrar-me com ela, vou encontrar-me com ela
aqui dentro de uma hora, hurra!

Vou encontrar-me com ela, vou encontrar-me com ela
aqui dentro de uma hora
Tu és caos onde eu
perdi-me quem és tu
perdi-me quem és tu

Perdi-me quem és tu
na lista de devedores já não estás
não podes receber nada teu
não chega

Não podes receber nada teu
Ladrão de nirvana
Tu és caos onde eu
perdi-me quem és tu
perdi-me quem és tu

Perdi-me quem és tu
o meu velório pousou delicadamente sobre ti
pensas na tua saúde
na tua careca à Gandhi

Homem solta aquele
Ladrão de nirvana
Odeio a televisão sintonizada
Detesto o forno calado

Português calado em mim
Mulher liberta aquele
Ladrão de nirvana
Ladrão de nirvana

sábado, setembro 16, 2006

Desapareço sem nome e sem receber



Ao contrário da brutalidade ou ao contrário do avião
Ainda seria insuficiente mesmo que nos fôssemos todos amanhã
Ficariam os que se escondessem pior ao chegarmos
Desapareço e vou-me embora na mesma
A partida foi quando fugi de ti
Uma única vez
O grande sol despreocupa-me e assim fico nu e desapareço e vou ouvir-me a ir embora. Aquela brutalidade inconsciente venceu-me sem intenção vim-me embora sem intenção ou vim-me simplesmente embora
Aeroporto

as vozes
que me soam melhor
são as que oiço
na presença de ninguém

quinta-feira, setembro 14, 2006



Roubei o que te espantava
Coerente e iluminado acerto
O meu tripé, pirâmide fausta na base
Generosa faca! A raiz que não é raiz
Roubei-te o que já tinhas perdido antes
Admito que não há espaço
Aceito o que me dás porque
Não temes que te roube, não és a raiz

terça-feira, setembro 12, 2006

Esta recta é o nosso instinto
ou uma boa desculpa para rever "Um Cão Andaluz"



Nenhum traço está onde é sentido
Tudo existe em cada impulso que se percebe
E se complica quando a ausência se ausenta em sensações
Não é faltando que o vácuo se dissipa na percepção
Mas falta o que não está na negação presente sem razão
Os homens ao contrário dos homens sãos pensam ao contrário
As bruxas duvidam das bruxas que actuam nos adultos
Mas as bruxas actuam nos adultos

sexta-feira, setembro 08, 2006

Eu debaixo de lágrimas



Óóóó... Óóóó...
Vou desenterrar-te
Sai da frente
Vou desenterrar-te

Dorme o pai perdido dentro de mim

A tristeza no ar, a falta de ar
Desprezível é o meu pai
Imunda é a minha mãe
Sujos os pés do meu azar

Turvo o meu coração vai ficar depois
Oito nove zero
Separação honesta do pai que sou

Às vezes calo mas não calo a tua voz
Estancarei quando alguns curativos anestesiarem-me assim o corpo

Estacionarei quando a morte se render ao impulso do carro do teu pára-brisas
Fui-me debaixo de lágrimas
Óó... Óóóó...
Vou desenterrar-te

Sai da frente

Vou desenterrar-te
O pai dorme perdido dentro de mim
A tristeza no ar, a falta de ar
Bendito será o homem mau de caramelo
Os pés soltos pararam em pleno dia
Sete oito nove zero

"Acaricia-me, filha do pai que não sou"
O coração estancado abre-se a gritos e liberta o meu irmão
Morre o sentimento de alguns dos meus inimigos e a minha alma refaz-se

Estacionado nos arredores da cidade o carro debaixo de todos os dias
O pai dorme

terça-feira, maio 02, 2006

Os chapéus desérticos



1
Tumbas de prata vazias
superfícies lunares difusas
vai-te, Outubro maldito
desprezas o chão que pisas
agradável e sensual
careca vermelha
cheia de eixos
e pés anões

2
Os malmequeres retraíram-se
os chapéus ficaram vazios
a colheita é uma cidade
a cidade da maternidade
acompanhante do abisso
a minha alegria pelo fogo
sob as muralhas proibidas
a lixeira das raízes
pela manhã me detenho
velho ouro de prantos
inteiramente desfeito um ruído
caseiro barulho
raso e desprovido de tristeza
revoltados gritos de Outubro
gelada terra disposta
na cárcere
tristes velhos entoam
gritos outonais

sábado, abril 22, 2006


POEMA MEDÍOCRE 13

No descampado as folhas secas.
Na floresta as folhas mortas.
Pássaros de encontro ao céu
em gritos.

Lata de gasolina na mão.
Murmúrio seco, imperfeito o traço.
Pássaros de encontro ao céu
em sangue.

Fausto encenando a morte.
Amor de passagens rápidas. Rios.
Pássaros de encontro ao céu
em gritos.

Amor de passagens rápidas. Rios.
Não morrendo por crescer ainda. O fruto.
Pássaros de encontro ao céu
em sangue.

Fausto encenando a morte.
Não morrendo por nascer ainda. O traço.
Do teu rosto.

Pássaros de encontro ao céu
em gritos.

RMM

segunda-feira, abril 17, 2006


POEMA MEDÍOCRE 12

Há uns quantos de dias
apenas
falei pela primeira vez sobre o vício, a doença,
o desvio do traço do meu demónio privado

na esplanada, esfregando os olhos ao calor como
uma outra coisa qualquer que
aqui estivesse mas não

está.

Acredita: não sou o teu sol, mas falo do meu coração.

Agora.

Que o peso da tua ausência se torna indiferenciado e
já não
me verga os ombros.

Há uns quantos de dias apenas falei
pela primeira vez sobre o desvio do sangue e a morte
dos versos que
não existem e não há cura
que a posologia dos medicamentos
não enquadre.


Foi só.
Há.
Uns.
Quantos de dias.

Apenas a mão aberta sobre os meus ombros,
os raios sobre os meus dedos.

Acredita: não sou o teu sol, mas falo do meu coração.

Foi só há uns quantos de dias apenas falei pela primeira vez sobre a doença o desvio os dias sem calendário de folhas «assinaladas e assassinadas» a negro e a vermelho e a vermelho e a negro acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração «ele transformou a água em vinho» cantam no rádio «ele caminhou sobre as águas» gritam as vozes «ele transformou a água em vinho» cantam as vozes «ele caminhou sobre as águas» gritam do rádio espera-te a cruz e o deserto e a morte e o arrependimento acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração não te levarei ao altar não erguerei a voz no púlpito não o levarei pela mão não o erguerei nos braços acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração e a voz que se ouve diz que não
reneguei

o diabo.


RMM

terça-feira, abril 11, 2006


POEMA MEDÍOCRE 11


O cavalinho de madeira ainda
baloiça sobre a estrada como se
a infância não fosse um dos
teus
fantasmas.

Acelerei naquela noite sem saber
se ir-me-ia matar nas tuas
mãos
abertas sobre o meu
corpo quente minutos depois do copo frio levado aos
lábios abertos, sujos do chop soy
de vaca louca ou de galinha
constipada de H5N1.

De certeza que o barco de papel não resistirá à incerteza dos
dias naufragados no calar da tua
distância
quando num carpir de
bêbedos os marinheiros choram
o afogar das suas sereias.

Foi o teu fantasma, abraçado ao teu colo,
amamentando a serpente no teu peito.

Foi o teu fantasma o brinquedo, o pente o céu azul…
Foi o teu fantasma o bibe, o guardanapo o estojo com a abelha Maia…
Foi o teu fantasma o Rato Mickey e o Pateta, o Demolidor e o Homem de Ferro…
Foi o teu fantasma a viola partida de cinco cordas, a Clarabela e o céu azul…
Foi o teu fantasma aquela que amaste numa noite no teu carro pulsando o calar dos pulsos no calor da madrugada inquieta…
Foi o teu fantasma o «animal selvagem que no silêncio te procura»… (e o céu azul também)

Foi o teu fantasma…
(continua a sê-lo)

Foi o teu fantasma…

…embora hoje tu saibas
que não se domesticam os mortos.

RMM

sexta-feira, abril 07, 2006

Os Açores na tristeza



A alva espaçonave da rua
Os alicerces sem vista interior de pedras regionais da aldeia
Equívoca viga sustentada pelos pés na terra, abertos os ouvidos
O desembaraço colocado pelo calhau branco de terror
Os normais do Prazer do Menino do sumiço casual
Faz cócegas o olhar quando nada é proibido na planície dos beijos
Deslizam os príncipes sob o sol matinal no telhado a reflectir a luz seca
Eu cá afasto-me e cheira-me que a rua se vai apagar!
A venda ao estrangeiro, o dia se eleva, não se eleva o dia

No início a escotilha dos meus ouvidos saía para a terra
A minha escotilha nua e insensível que nada ganha
Proíbe explícitos continentes nos trágicos quintais
Expulsa a terra inteligível sob os elevadores roubados
Traz o sentimento de que a nave está perto das barracas alheias

Exulto e desperto a terra que não me tem
Acordado, firme, agitado, eu
Aproximo-me da nave sem dar atenção mas ouvindo os meus ouvidos
Ouço a escura rua com ouvidos desatentos

Os ouvidos me abrem... abandonados ali ao lado da rua negra...
Planto a minha boca sem que o vão interior se feche no betão
Mas eu, depois de depois do escuro escurecido e vazio do jardim
Ainda tenho frio apesar de me afastar sozinho e de fechar também as portas
Sinto que estou num corpo de éter e de reflexos inconsistentes
As naves aterram por cá às vezes e ficam de vez

As terras baixas temem que a fraqueza atrapalhe o pensamento
Elas têm prazer em sentir o que tenho aqui
Amadureço e proíbo o desmatamento desertificante aos ladrões!
A ausência das rochas fora da essência das rochas roubadas!
A compreensão da morte não podia deixar de ser diferente de tudo
Faz falta o começo, mas não faz falta o começo que faz falta sem razão

Não faz falta o erro que desperta a minúcia e nunca é pior
Eu estou na espaçonave, mas as espaçonaves não são aeronaves - as espaçonaves ficam

A estátua interior faz sentido porque nem me passou pela cabeça
É daí que chegam as naves que vi... que sei que vi! Que visão!
No céu as visões impedem as camas de se deitarem sem querer

Lá no meio quero ouvi-las a desaparecer para se desfazerem sozinhas
É bom impedir que as rochas se ausentem como se houvesse algo que eu quisesse desfazer
Não reparo que algumas delas são rochas menos originais

Estou a ver rochas familiares compreensivelmente rectas e inconscientes
Ocultadas por uma porta, no apartamento das rochas vibrantes
Vejo aviadores de gritos vivos no caos reencontrado
O caos foi lido e parou num lugar incerto
À vista de todos, a noite pensa que ficámos em terra
Mas as naves sim ficaram

Penso que a inconsciência diante da minha barriga é o que me dá prazer
Assisto à partida do nada perante a hipótese
Ele carece de oito não-seres mesmo que o corpo não seja o sétimo
E mesmo que ele tenha mais que nove, para o corpo não há um oitavo
Não há que roubá-lo a ninguém

O corpo e o cérebro não estão à volta da inconsciência colectiva da desagregação do outro que não me tem
Pensamentos avulsos, as minhas distracções perseguem-me

Por isso fecho as portas
Aquela manhã da porta das janelas escancaradas terminou

A minha inconsciência central reatada
A mim ninguém terá de ver com bons olhos
Desde a noite em que a minha hiperactividade desapareceu
No meu corpo definha um entusiasmo, indiferente, visionário

Acende-se o Inverno, é cedo, não está deitada na cama
A alva espaçonave da rua obscura

quinta-feira, abril 06, 2006


POEMA MEDÍOCRE 10


Falas do futuro negro
da falta e a da ausência
da queda do
equilibrista desequilibrado
sobre os cacos de vidro,
fosco,
o reflexo no espelho
partindo os traços
desesperados do teu
rosto.

A queda já foi.

Acredita.

Hoje, ontem… a queda já foi e
o futuro é este
sobre os cacos

apenas,
a carne rasgada das
virgens trágicas bebendo

o vinho amargo dos
homens dóceis.

Se para além do passado fores para além da vida: é preciso ir para além do futuro se quiseres ir para além da morte.


Sangue para mim são uvas.


RMM

quarta-feira, abril 05, 2006

Apenas despertar



Com toda a certeza proíbo
A calmaria das sombras
Quando não há vozes na sala

Oiço sempre
O teu choro quando
Perto daquele lugar
É noite... e sinto-me mal
Cuidado tu!

Despista a minha vigília
No tecto param
A escuridão e a ciência
A tranquilidade quadrada

Com certeza o tecto é feito
Da minha vigília perdida
Na sexta megalópole
O teu tecto é que já acabou

Nenhuma fealdade se eleva
(Apaga-se a si própria)
Apagadas as trevas
Acendidas as tristezas

domingo, abril 02, 2006

As damas à água



Dia 7 de Dezembro do ano 210 a.C.

A tua cor permanece em mim e tranquiliza-me
Distante é a neutralidade. Debaixo dos nossos pés a lisura

Meus pesadelos inofensivos saem vencedores!
Azedo e elevado levanto voo

A princípio a tua estranha pintura interior não se esvai
Mas a inocência cautelosa a amortece e apaga

A tua cor permanece em ti mas eu desejo-a
Distante sumiço o teu. Apagado o chão debaixo dos nossos pés

Com raiva ou indiferença - vou atrás a gritar
A lisura possível apaga o chão debaixo dos nossos pés

Desobrigo-te... a ti e à tua cor mutável
Os minutos congelam. Desobrigo-te

A inconsciência esporádica dos pesadelos ligeiros
imobiliza o teu rancor e a tua frieza


Estás livre...

sexta-feira, março 24, 2006


POEMA MEDÍOCRE 9

O «agente transformador transforma a dor»

em quê?

Não acreditas em Deus,
tão pouco eu nos homens todos.

Só e apenas na medíocre
mediocridade das palavras,

pois no silêncio vago
das mordaças em bocas
feridas de
herpes, sífilis,
convivem juntas todas
as
pequenas chagas.

RMM