Subversos

Derrames cerebrais com vida própria

sexta-feira, dezembro 16, 2005

O buraco negro



A mulher está condenada a pari-lo
O buraco negro
Cria a morte
Sem parecer um homem sóbrio tira espaço à mulher para a sentenciar
É ignorado pela massa desatenta em calabouços de celofane
Mas cheira bem
Imagina que vai implodir aqui, agora e porque lhe apetece e traga a sinistra eternidade
Usa ponderadamente a vergonha de ser abismo
Exalta extremistas e galáxias, e paralisa sem a faca da liberdade
Vem do Sol, grita e pára
Exige que todos cumpram a obrigação de viver com saúde
É saúde
Apaga estagnações infrartesanais para atacar os vanguardas e os decadentes
Vai divertir-se sem as ciências exactas, líquidas, positivas
Extrai o universo da guerra de um cálice de magnésio empobrecido
É talibã e odeia o fedor das Ilhas Kermadec
Passa ao lado da língua áspera dos críticos
É público e aberto a todos
Não se assume como estaca do crime chapéu do ódio demónio da cizânia
Proibiu a Deus que amaldiçoasse o Belzebu e vice-versa
É obrigado a orgulhar-se para ser posto em causa
É verde
Sempre destrói gatinhos no jardim, às vezes na cozinha
Inspira razão e humildade social
Engole a vida com frutas
Estica uma ou outra cauda na sua pontuação translúcida
Ressuscita ao fingir que abala para dar à luz
Não quer adormecer apáticos doentes, nem sedentários integrais
Faz dormir a todos apenas quando o provocam
Pertence unicamente a um convento de freiras
É um escravo do barulho monocórdico de cinco varas de irídio e ósmio aquém da perfídia
É uma cicatriz nas costas do Outono
É um colírio na cegueira da morte e penetra
Petrifica enquanto murmura: eu sou a luz
Ofende as fraquezas corporais, as espaciais e só
Cura os velhos depois de terminar de morrer
Deixa de curá-los quando chega a morte
É divertido, é de uma alegria banal
Goza de regeneração restauradora, de boa memória, de hemo-oxigénese, de logoparcimónia
Ruralizou as cigarras que o cristalizaram em diplomacia local
Tem quatro microbares de calor por 14 de nobreza
Trabalha nos dias úteis
Ri-se nos dias de sol, estende-se ao lume
Divide com palavras os alheios e é alheio às palavras
Nunca ninguém sente a sua falta para evadir-se
É quadrado como uma cama quadrada... e redondo
Não vem de nenhuma futebolada e só se levanta por dentro
Diz a verdade e chora com todos os buracos
Estava no topo da montra, mas não estava onde estava
Ontem lembrou-se e cumpriu a promessa de ser pior
É caro tem tempo e tem por onde ir
Acorda na segunda-feira assim que os pássaros desabam
É elegante de tão prazenteiro a acariciar o pescoço
É inteligente é delicoalegre é vazio de linhas rectas
É a matéria-prima tosca de uma fábrica proeminente
É uma raiz de tranquilidade a apaziguar os sonhos dos coveiros

2 Comments:

Blogger Alberto Oliveira said...

Detesto negros buracos
da cor preta do carvão;
terra-sena são os arcos
abóbodas amarelo-limão.


O "Origens" do Amim Malouff, pisca-me o olho daquela pilha de livros...

18/12/05 18:36  
Blogger merdinhas said...

Cá está... o buraco negro de que falaste.

18/1/06 23:10  

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