Subversos

Derrames cerebrais com vida própria

terça-feira, março 02, 2004

Dias que fogem

Os dias fogem, os dias fogem
Agarrem a sexta-feira dos cabelos perfumados
Antes que comecem a cheirar a tabaco e a vinhaça
Detenham-nos ainda ali dançantes de vida

Os dias fogem, os dias fogem
Já é outra vez quarta-feira e os talheres batem
Nos pratos que deviam estar cheios de energia
A vida anda a correr, mas o que é isto – puré?

Os dias fogem, os dias fogem
É domingo e está cada vez mais difícil dobrar-me
Lembro-me de como me atirava com um gato no chão
Quando foi? Há dez, vinte anos? Era domingo?

Hoje é terça-feira e há festa
Não conheço o dono nem o motivo da celebração
Dizem que é meu amigo, mas não sei se será
Tenho a barriga cheia e amanhã trabalho
Os dias vão fugindo

Como passou a correr esta quinta
Nada ficará na memória despunhetada deste dia
Brilhantes na televisão solitária os corpos comem-se
A imaginação sodomiza-se que a vida corre mal

São tantos os olhos que me miram
Na segunda-feira mais uma provação
Sim são olheiras e depois? Não se pode beber?
Não se pode fugir destes dias que fogem

Já nem sei que dia é hoje
Melhor nem tentar arriscar
A riscar o calendário deu um louco em doido
Já é noite amanhã outro hoje deixa fugir