Subversos

Derrames cerebrais com vida própria

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Nobel da culpa



Lembra-te da barriga com que eles ficam
Dura é a água fria do mar
Não prestam atenção a nada, nem aos remorsos, os delinquentes
Levam toneladas de televisão!
Levam nativos!
Levam cantores!
A espaçonave parte sem rumor
O Nobel para os culpados

segunda-feira, janeiro 23, 2006

O Irão para o centro do centro do Oriente



E foi por isso que me perseguiram! E assim será daqui a pouco quando aí estiver o que terminei!
Depois hei-de virar as costas pela primeira vez, algo enjoado e triste
Fechar-me-ei no meio do ar até que me prendam numa área restrita
E chegarei a ares insossos, a baías desertas, ao Norte
Ao vilão, ao idiota, ao diabo, ao Sul, à América do Sul,
Ao Novo México, vindo da Sierra Madre Oriental
O quadrado completamente quadrado fala para dentro do interior da minha atmosfera oriental
Sussurra, dos ares estagnados, vindo da rua dos funerais sob a brisa algo jovem, adulto, o outro
O que sempre procura escondendo-se cansado, respondendo:
O Irão para o centro do centro do Oriente

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Ataca o sismo bem no meio



Vejo sempre ideias
Interestelares
Para além da minha prosa séria
Organismos insones

Da tua banda racista gosto quando se cala
Um guru perdeu o caos para mim
E parecem simples marcas no meu corpo
Um guru perdeu o caos para mim
Quando levitei estático em Java
Estamos a fazer manguitos em todos os auditórios
E parecem simples marcas no meu corpo
Um guru perdeu o caos para mim

Para além da descolagem
Por um milhão de rúpias
Nós os livramos de pensamentos humildes
Da escuridão sem vendas mecânicas
Todas as cegueiras debaixo dos pés que não temos

Amanhã de manhã freiras subaquáticas desbocadas vão desfazer
As frustrações de alguns taxistas
Vão destruir as gaitas da perdição amanhã de manhã
O resgate das meninas morenas e alaranjadas
Amanhã de manhã leva as tuas dívidas
Pede chuva na pousada da juventude com submarinos por baixo
Amanhã de manhã no conflito terráqueo
A essência da criação irá desprezar-te

Para além da descolagem
Um órgão despistado é retirado
De forma brutal e cínica vais contaminá-lo seriamente
Mais ou menos próximo de ti tenho de te ignorar
A menos que a tua carroça perca o avião

Ataca o sismo bem no meio

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Plantas várias na lua dos nossos pés vazios



Colchões secos e cosidos humedecem
Após as novas músicas rock que dançamos
Juntos atraímos o interior
O espectador transparente e eu
O vilão e o seu lacaio? - ressuscitaram a sós
A obrigação do fogo aos poucos recompõe a estação
E o ultraleve dança para os aviadores e para mim
Mas - sem cuidadosas dúvidas -
A ligeira aeronave perdeu o controlo sobre o passageiro
Estúpidos e fracos, lançando a âncora
Emergimos turbulentos. Paramos os motores
Separados nós éramos fracos
A brisa espaçosa do voo desfez-nos a todos
Miava baixinho e era como nós somos às vezes:
Uma mula

domingo, janeiro 15, 2006

Mesmo que ela seja delicada



Mesmo que ela seja delicada
Mesmo que ela seja delicada
Tenho medo de que largue o meu pé enorme
Hesito com medo de deixar de ser livre
Mas onde um único pensamento chega
Desde que os meus pés eram jovens
É na mulher que está sobre o meu pé esquerdo
Mesmo que ela seja delicada
Temo que largue o meu pé enorme
Algures atrás da minha nuca

Tenho medo de que fixe o seu enorme calendário
Que diga a verdade
Sinto que essa mulher única
Se vai embora como tinha prometido
Proíbo-a de me acordar
Desprezo mulheres antipáticas para um homem como eu
Algures atrás da minha nuca
Tenho medo de que fixe o seu enorme calendário
Na televisão

Tenho medo de que a velha me acorde
Tive um pouco de medo apesar de estar acompanhado
E não sabia que ela era a rua
Entre outras coisas porque vi a imagem
Fui expulso da casa dela uma única vez
Na televisão
Tenho medo de que a velha me acorde
Acordo sozinho

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Não voo nem faço coisas



Explodido como um animal no ar
não voo nem faço coisas

Sossegado mas nem sei o que sou
Sossegado e prestável nem sei o que sou
Uma condição física sei que não sou
Mas uma noite as minhas barbatanas desapareceram
Afundaram à minha frente, evaporaram, dissiparam-se na atmosfera
Não sei o que sou sem elas
Não sei, não sei o que sou sem elas

Não voo
Não voo
Não voo

Não voo nem faço coisas
expandido como um animal no ar
não voo nem faço coisas

Sossegado e
sossegado e prestável
uma condição física
Uma noite as minhas barbatanas desapareceram
Sejamos realistas, nunca começo por engolir em seco
as barbatanas recompostas, braços voltando
miolo explodido, polpa sugada

Não voo nem faço coisas
explodido como um animal no ar
não voo nem faço coisas

Mas onde quer que vá não fico nada nada estimulado
Bichos excitados desagregam-se debaixo de copos
os mais plenos pensamentos
mergulhando e levantando voo
terminando e recomeçando
Casa, muros e fios eléctricos
Não voo

terça-feira, janeiro 10, 2006

O teu raciocínio excepcional



Possuído pelo futuro e pelo passado
Desgraçado sem graça como todos
os aviadores com rabo de cão vulnerável
Imperfeito
como o passado
Também quero falar
um pouco
para te alegrar
Anima-te
Alguns minutos estacionam-se diante de ti
Assim será durante um instante
alaranjado no meio
do teu nariz
Que bem me faz um beijo
Sim
Fora isso há seis animais que não se importam
porque sentem calor
A lisura da tua camisa
que te pertence
a casa as novidades
como todos sabemos dizer
digo
dos bêbados
que dizem
da habilidade dos sentimentos
os bêbados
obscuros
que já
todos falaram da mesma detenção
com as mãos
um ou outro centímetro
Pára

"A sagacidade de outra pessoa encontrou os aviões dela enquanto alguns dos meus procuravam por mim perdi-me deitado com ela e um copo de uísque a beber a tarde e à uma já era amanhã"

Odiamos superficialidades

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Do acaso que te possui



Tudo podes, Giovanni de'Medici
Tudo é castigo: nada é o que parece
O acaso acabará por te entristecer
No crime muita gente se enterra
De todos a humildade é recebida
De todos

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Imensidão



A indiferente certeza de esvaziar o dia minúsculo existe
Esvaziando com a sua imensidão o minúsculo dia
Ainda que o meu calendário encerre e seja várias inexistências
Amoleço e penso em chorar o dia todo com o coração dos olhos
Encontro-me a sentir cruamente tudo aquilo
Que liberta um pequeno vácuo de ar e de Inferno
E este enorme vazio constante dentro da minha cama
O calendário interrompe o seu silêncio
Cá dentro há uma tormenta como se estivesse cá tudo
A minha cozinha é a claridade com um tecto totalmente negro
Os artifícios sabem que estou cá dentro
E o meu calendário é invadido por parte do dia
Adormeço aos poucos pela manhã
Durmo de manhã