Subversos

Derrames cerebrais com vida própria

quarta-feira, novembro 30, 2005

Propósito



Nada é outra coisa...
Nem tu, por isso mesmo, serás outra, mas eu sim sou outro.
Serei outro...
Jamais... O galã!

Vou ler prosas em movimentos casuais sem significado e expressões suaves?
Todos os habitantes cheiram-me com uma familiaridade sistemática.

Amanhã, depois, e certamente muito além
Alguns vão ser uma nova vida,
É que alguns esquecimentos não são novas omissões,
Há um que vais cheirar daqui a pouco no mesmo deserto,
Na mesma casa;
E há outro que vais cheirar daqui a mais um pouco no mesmo deserto
Na mesma casa;
Aquele mesmo!
O homem galante.
Vais pensar que se lêem prosas...
E aquilo era sobre outra coisa, não sobre o homem

O horror do anonimato!
Lêem-se prosas, fica-se sóbrio, e ao mesmo tempo bruto, e certamente
Certa ou erradamente,
Lêem-se prosas.
Há algum prejuízo em levar o corpo direito?

Outro dia ficarás contente por cheirares para sempre o mesmo homem,
E te alegrarás por ainda por cima o teres cheirado tanto.
Há algum prejuízo em esquecer de vez em quando?

Ele encontra-se aos poucos num odor crescente,
Está ali naquele deserto pela primeira vez, na mesma casa,
E o mesmo homem fica estático.

O que saía da casa, naquele mesmo deserto, era ele sem dúvida.
Esse, esse mesmo.
Por trás da intenção doméstica o desígnio do galã.

terça-feira, novembro 29, 2005

O sol sobe pela planície



O fogo do sol sobe pela planície.
Não são fogos despreocupados.
Desintegram grandes montanhas e penhascos, e bebem
O ar azarado.

Não há ninguém que se cale com o prazer e o regozijo
Porque eles adoram a ira...
E tu, que a tens de outra forma, o que berras
Não é senão a mesma coisa.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Ninguém sobreviverá?



Ninguém sobreviverá? Ninguém? A lua, apagada e opaca,
Dentro de poucos minutos, a quadratura dos minutos prossegue.
Um berço de contentamento exulta a futura nulidade -
Será terrível - por cima das planícies castigadas.
Mas à luz do dia uma aurora de carne negra
Foge dos mesmos reflexos, do ruído e dos espasmos.

Reflexos de treva se diluirão pela primeira vez
O mesmo indivíduo, encontrado no futuro, dissoluto.
Um dia que se prolonga, até que a noite nunca chegue -
Mergulha sobre o seu multicongelante horizonte,
A lua da noite, lua do gelo prateado,
Nunca mais esfria as alegres anti-paisagens.

domingo, novembro 27, 2005

Fraqueza



Sentiste o meu pequeno momento de descanço
Que destruiu uma casa para mim
Que foi transportado pela areia, aproveitado
Uma pequena fraqueza, um grande tesouro
Ouviste o meu pequeno momento de descanço

Que fraqueza é aquela
que me leva pelas pernas
Que me oferece muito mais do que leis
Que me dá muito mais do que ordens
Que fraqueza é aquela
Que me traz tamanho peso na consciência
e auto-satisfação

Ouve, eu entendo bem o que estás a pensar
Agora que a noite se adocica
Entendo bem o que estás a imaginar
Aquela fraqueza que desaparece nas entranhas
Aquela satisfação que morre nos pés
Entendo bem o que estás a pensar

sábado, novembro 26, 2005

A Fada



Naquela aldeia do Mar
Por onde passam dois forasteiros
Ela está com todos na cozinha
Ela está com todos entre especiarias

Sim, ela está com todos!
Daqui a séculos um estrondo
Ocultará morte distante.
Errada é a extinção animal
Mas é morte. Não vê a Fada
Perdida na treva total

Com dois forasteiros?
Mas ela queria muitos mais...
Queria milhões de estranhos,
Daqueles prolixos, próximos,
Que escrevem prosas mesozóicas
E assumidamente se distanciam
Da morte, do ódio, do peixe.
Estava com todos, tinha milhões de estranhos,
E longe daquele minuto madrugador
Sabia como fugir deles!

Mas queria muito mais.
Queria um homem
Que se fosse embora àquela hora,
Lhe entregasse aquela agressão
Deixasse morrer o nascimento
Uma hora e um golpe lúcido
Que ela não irá receber.

Entre dois forasteiros
Poucos homens possíveis
Respondem ao muro
Sem avaliar o espaço encontrado
Desde que a noite se foi
E levou vinho, livros, tormenta.
E naquele minuto pleno
Assim se encontra um homem!

Aquela aldeia do Mar!
Não tinha nenhuma frase bruta,
Nem sabia o cheiro dos homens,
Nem as pancadas mais carinhosas,
Estancou, recebeu os golpes, esqueceu
Estava em redor de uma mão,
de pés, ataques, fugas

E quando se conseguiu expressar,
Já nem o dia existia
Nem aquela banal profusão de gente

Estão a ver, meus estranhos?
Aquela ausência inerte
Que precisava coser o dia
Era muito mais do que a Fada.
Era no fundo a defesa
Que neutralizava a besta.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Extra-indivíduo



Longe do animal e do homem o indivíduo
Não me apercebo dos milhões que me ignoram com actos naturais
[ explícitos sem significado,
Reconhecendo vários deles, estranho, estranho, estranho, estranho,
[ velho, todos mais longe do que eu,
Nenhum me identifica, a não ser este - este nunca me viu.
Odiante dos vóltios-minuto e distinto imperfeito,
Não digo que eu te queira ocultar de outra forma com pensamentos
[ fortes e dirigidos,
Mas tu quando me desencontraste também não me querias esconder
[ pelo ódio em mim.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Escravo



Espaço
Se tivesse de estacionar no espaço
Nunca me evadiria atrasado
No exacto momento em que destoasse
Precisaria de um maestro
Era um animal da planície

Água
A paz internacional
Está escarrapachada no ar
Um trabalhador e a sua vigília
A berrar ingratidão
Não tenho os balões de água dos outros

E não há espaço para o animal
que berrou as suas liberdades
E não há espaço
E não há espaço para o animal que é um escravo

Vermelho
Vermelho banal
Uma ou outra ideia oculta
Eles estão a segredar
Os chilenos pensaram "Sim",
"Podem vir"


Luxemburgo

Uma grande recta em lado nenhum tangente a um qualquer ponto indefinido
De vez em quando é preciso ser-se mau!
O mercador de sonhos escapou de novo- Ilusão politicamente correcta, a polícia não viu a estrela de ópio nos seus bolsos
Ah! Ah! A gasolina mede aos metros os limites do todo grande Império Fascista do Alcatrão
E mais tarde, diremos, sobre as negras margens... o rio Petrusse
Estranhamente magro... mas olha! Não vês os morcegos no seu ventre?
E dir-te-ia que tudo isto me lembra uma arte em néon ou a minha cidade ainda e os seus rios negros
E por que não flores e lagos, mas olha... como rodam aqueles!!!
Dois corpos em fuga dentro de um porsche amarelo que estranho embala nos seus tesos bancos o berço... o estranho repasto às deusas podres da noite

Ainda sinto a serpente no meu peito
E a estranha angústia de me sentir distante
“Quando a maçã rolou até ao rio não pensei atirar-me à maçã. Atirei-me ao rio”.
Passeámos longamente numa mente longa
Estradas do meu cérebro eu não conheço
E dir-te-ei tatuar um rio em cada tempo

O vento traduz a frase

Ainda nos uivam à noite, o ódio está em todo o lado, bebe-se em todas as máscaras. E tudo o que nos resta é a ilusão ambiciosa que não tombámos no abismo. Como se ele não fora por nós criado.

O vento transfigura os rostos

On nous hurle encore pendant la nuit, la haine est partout, on la boit en toutes les masques. Et tout ce qui nous suffit est l´illusion ambitieuse de ne pas avoir tombé dans le gouffre. Comme s´il n´avait pas été par nous construit.

As palavras traduzem os nossos gestos
Mas o medo
É tão só o silêncio
Intransponível

Carta de mim para ti
Sem dizer nada e mais nada
Cidade do Luxemburgo
Julho de 98

Claus Min (74/98)

quarta-feira, novembro 23, 2005

Longe do Bloco Silencioso...



Longe do bloco silencioso, do Paraíso
Da descontração esporádica,
Não te provei, mas o espelho público
Irradiava os teus pés.

A tua boca de bruxa estava feliz e opaca,
E o teu cheiro tão salgado,
Como o perfume de um piano anexo
Ou o grito do céu.

Tive nojo do teu pescoço largo e entroncado,
E da ausência irracional, vazia,
E do cheiro do teu gosto - rebelei-me
Nunca no meu corpo...

Quando refeito, nos meus dias sociais,
Digo a verdade por cima de uma continuação -
E provo os teus feios lábios sorridentes,
E vejo o teu odor triste.

E, alegre, flutuo acordado para sentir
As minhas insónias que rastejam por baixo...
Não tenho a certeza do que mais me repugna -
Mas, certamente, estou anti-apaixonado.

terça-feira, novembro 22, 2005

Caixa de terra



Alheio à última paz local
longe de um piloto acarinhado com galhardetes
morri pela primeira vez.

Numa escuridão sem significado
desenrolando-me de um lado para o outro
morri pela primeira vez.

De um colapso nanoscópico,
escapei para destruír um átomo.

Expelido pela leve leve insónia,
dos culpados,
morri pela primeira vez.

Numa lenta carroça oceânica,
não me surpreende ter expirado,
uma caixa de terra selou-me a morte.

De um colapso nanoscópico,
escapei para destruír um átomo.

De um colapso nanoscópico,
escapei para destruír um átomo.

De um colapso nanoscópico,
escapei para destruír um átomo.

segunda-feira, novembro 21, 2005

O meu pseudónimo



Raiz proposital e réptil grotesco,
Silêncio estático na linha da prosa,
O meu pseudónimo bebe o acaso, parte,
O meu pseudónimo, teu ódio,
O meu pseudónimo morrendo
A preto e branco nocturno!

domingo, novembro 20, 2005

Através da ponte



Através da ponte de onde me atiro
Não há silêncios de morte nem silêncios de vida
Nem silêncios minúsculos, que nem olham para trás
Nem os firmes, que congelam e ficam à espera
Não há silêncios apagados como aviões
E não há silêncios animais, silêncios que gastam
A minha notícia e o meu despropósito

À tua volta, silêncio, cega verdade,
Os pés e as pontes de não sei quem

E não há silêncios nem matinais silêncios vociferados
Silêncios que vos descem claríssimos dos ouvidos
Silêncios carvões silêncios sempre gritados
Silêncios capazes de se dizer
Já que tens contigo pilhas de órgãos
E algum fel particular e algum golpe da terra
As pernas dos casais falam baixinho
Um pouco aquém de outra terra rubra que não aquela em que vivem impolutos
Silêncios de madrasta muito mais que luz muito mais que grito
Mais que relaxamento mais que ódio mais que companhia construída

À tua volta, silêncio, as pontes livres
Ou à tua volta, silêncio, o teu direito a ficar calado

- dedicado à grande inspiração de um grande surrealista, Cesariny

sábado, novembro 19, 2005

Por baixo da mentira



Por baixo da mentira ausentam-se os criados.
A sua religião é uma originalidade bem sucedida
Da dúvida sem que nós
Duvidemos de que nada existe.

Nada não é nada, e mais abaixo não há criados,
É função da religião pô-los em causa,
E deve odiar
As suas imagens como raízes,

Porque invisíveis aos seus rasteiros narizes
Não são tão fictícios como fictícias as raízes
E no nosso agitado Pacífico
Não somos da mesma artificialidade.

O fogo brada na taça que afasto do cu



O fogo brada na taça que afasto do cu.
"Não é uma cor abrasadora" digo a quem dou a comê-lo.
Choro. A cor é mais do que uma cor de bradar.
Vomito a massa e vejo tudo sem o meu tornozelo.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Karrathae



Tu matas o asfalto
Adoras esta casa
Eu vendo-te pureza
Tu cospes sorrisos
Aquela forma animal
Em que vais morrer
Sem te orgulhares

Karrathae

Orgulha-te
Orgulhas-te

Vendo-te um céu negro
Para voar
E aceite
Levo-te a flor
Que na flor eu te levo
E não terás
O que mais temes

Karrathae

Orgulha-te
Orgulhas-te

quinta-feira, novembro 17, 2005

Aquilo não é ódio



Acredito que a morte seja simples
Sempre que eu me queira levantar e ouvir-te vestida
Não é ódio isso que tu não sentes
A morte não tem de estar vazia de normalidade?
Não quero que me persigas em cima da cadeira, quero que me mordas os pés
Não é ódio isso que tu não sentes
Acredito que nos limites o prazer acabe por chegar
Quando tu sabes tão mal
Acredito que nos limites o prazer acabe por chegar
Enquanto os meus pés congelam
Não é ódio isso que tu não sentes
Nem no Inverno, nem no Outono
Me sabe a pouco uma coisa tão vulgar

Sou a única realidade que contas a toda a gente
Sou a tua grande e pura notícia, que não queres guardar para ti
Vai-te embora, vai-te daqui, eu estorvo-te a memória
Faço com que o tecto se construa de dentro de ti, a desabrochar
Não é ódio isso que tu não sentes

quarta-feira, novembro 16, 2005

Grande lâmpada



Brisa do Norte,
loira, gelada,
parte sob o teu peixe,
levando-te um caixão
de opacos
gritos, ressecado
de lírios.

Tornas azul o sol
e bocejantes
os castanheiros livres, mas vais
às sete da madrugada!
Já saquei o dia do meu poema
duma gaveta!

Com milhares de brisas,
não ligues!,
anda em frente, pulmão;
anda em frente, pulmão.

domingo, novembro 13, 2005

Bela espanca



Uma flor é uma flor
mesmo murcha continua flor
ainda que as suas cores se esvaneçam
se embebam de um branco frio e neutro
ou se vistam de sangue pisado e negro
continua bela

Uma flor é uma flor
mesmo morta continua flor
ainda que o seu perfume se putrefaça
e as suas entranhas anárquicas
lhe escorram pelo ventre aberto
continua linda

porque fui eu que a matei

sábado, novembro 12, 2005



Como diriam os cubanos... "Às vezes, o barato sai Castro!"

quinta-feira, novembro 10, 2005

O regresso



Recuperado da grande caminhada pela vida
Alentado pela feliz conclusão da jornada
Realizado pela visão de que o fim dos desejos
mora ao lado de um espelho que tem escrito a baton roxo:

"Não há nada a perder!"

... resolvo voltar ao início, ao lugar de onde parti

Agora, nos meus ouvidos, zumbem sirenes. Recupero a respiração perdida entretanto. Vejo tudo baço e escuro e a piscar entre o vermelho e o azul. Alguém me empurra e me insulta. Pelo canto do olho, vejo o corpo da minha mãe estendido no chão, cheio de sangue. A vagina escancarada. Parece que falhei o regresso ao útero...

segunda-feira, novembro 07, 2005

Irmãos das unhas pretas
Uní-vos contra os abusos
de colarinhos obtusos
de engomadinhas caretas

Salto do fundo

Salto do fundo do fundo do poço
remexo no fundo do fundo do baú
pra dizer que no fundo no fundo
ainda estou vivo, largo, profundo